
Está aberta no Itaú Cultural a Ocupação Ilê Ayê, sobre o primeiro bloco afro do Brasil e uma das principais atrações do carnaval de Salvador.
Passados 44 anos do nascimento do bloco, eles mantêm o preceito de desfilar apenas com negros e continuam questionando o racismo e o emudecimento dos negros na sociedade brasileira.
História
Nos anos 1970, os blocos de mortalha se popularizavam no Carnaval de Salvador, exigindo dos candidatos a integrar o grupo que preenchessem uma ficha com endereço e foto. Moradores das periferias e negros eram recusados.
Até que, em 1º de novembro de 1974, foi fundado no bairro da Liberdade o Ilê Aiyê,composto exclusivamente de negros. Passaram três meses se preparando para o primeiro desfile, cujo tema era simples: responder à proibição velada de os negros desfilarem no circuito do Carnaval da cidade. Proibição não oficial, nunca escrita em decreto.
Ilê Aiyê foi o nome escolhido por Mãe Hilda para o bloco que nasceu de seu terreiro, o Ilê Axé Jitolu. Vovô, inspirado nos movimentos afro-americanos, queria Poder Negro.
Mas ficou a vontade da matriarca, ficou a África no nome em iorubá, idioma nigero-congolês usado nos ritos religiosos afro-brasileiros no qual ilê significa “casa” e aiyê “terra” – o mundo terreno, em contraposição a orum, onde vivem os orixás.
Na tradução de Mãe Hilda, a casa de todos. Na história do bloco, dos versos da música do primeiro Carnaval, o mundo negro que o Curuzu veio mostrar.

Identidade Visual
Quatro cores definem cada um dos eixos principais da Ocupação Ilê Aiyê. Primeiro, a cor preta, da pele e da história dos homenageados.
Em seguida, a vermelha representando o sangue derramado na luta pela libertação. Depois, vem a amarela, símbolo da riqueza cultural e da beleza negra.
Encerra com a cor branca, da paz e da cura.
Todas elas estão representadas na sua identidade visual, desenhada pelo artista Jota Cunha: uma máscara africana com quatro búzios abertos formando uma cruz na testa. O autor a chamou de perfil azeviche.
As máscaras são objetos ritualísticos de grande importância na cultura dos países africanos, cuja principal função é ser uma representação da coletividade. Azeviche é um mineral negro associado ao barro preto das terras da Liberdade e à pele negra.

Formação, autoconhecimento e educação da cultura negra
Há 23 anos, o Ilê Aiyê idealizou a série Caderno de Educação, produzida pelo Projeto de Extensão Pedagógica do bloco, em que usa de toda a sua poética e estética para aproximar os negros deles mesmos, de suas histórias e legados ancestrais, como instrumento de enfrentamento social.
Os Cadernos de Educação foram idealizados pelo poeta, professor e diretor do bloco,Jônatas Conceição (Salvador – BA, 1952-2009), e pela pesquisadora, professora e diretora do bloco, Maria de Lourdes Siqueira (Codó – MA, 1937), a partir de outros cadernos que eram editados anualmente com os temas do carnaval.
Organização e Resistência Negra foi o título que abriu a Série Caderno de Educação, produzida pelo Projeto de Extensão Pedagógica do Ilê Aiyê. O conteúdo trata das mais importantes organizações negras brasileiras do século XVII, até a fundação do Ilê, em 1974, costurando história, poesia, música, ilustração, dever de casa e um rico acervo do glossário.
A publicação da série de cadernos do Ilê antecedeu a aprovação da Lei Federal de número 10.639/2003, que incluiu a obrigatoriedade dos estudos de história e cultura afro-brasileira no currículo oficial da rede pública de ensino. A lei já existia na Bahia desde 1987.
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Itaú Cultural – Avenida Paulista, 149 – Bela Vista, São Paulo
(11) 2168-1777 / (11) 2168-1776
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03/10/2018 a 06/01/2019
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Terças a sextas, 9h às 20h. Sábados, domingos e feriados, 11h às 20h.
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Gratuito.